sábado, 22 de novembro de 2008

A dietoterapia para ADL consiste em Óleo de Lorenzo, restrição de ácido hexacosanóico e gorduras, suplementação energética e vitamínico-mineral e suplementação de ácidos graxos essenciais(AGEs). Na apresentação do painel eu falo apenas do óleo. Aqui vão algumas informações sobre as outras etapas da dietoterapia.


Restrição de ácido hexacosanóico
Na terapia nutricional para ADL as outras fontes de gorduras devem ser restritas, pois o seu consumo em excesso pode diminuir ou anular o efeito do óleo de Lorenzo. Recomenda-se que forneçam 10 a 15% do valor calórico total (VCT) da dieta. Como o óleo de Lorenzo contribui com 20% do VCT, a dieta conterá no total 30 a 35% do seu VCT fornecido por gorduras.
O ácido hexacosanóico (C 26:0) está presente em maiores quantidades em alguns alimentos, os quais devem ser restritos. Van Duyn et al (1984) publicaram o teor de ácido hexacosanóico de 135 alimentos e detectaram, por exemplo, que há diferenças no teor deste ácido graxo de frutas e vegetais com e sem casca, sugerindo que estes sejam preferencialmente consumidos sem casca e sementes. Alimentos gordurosos em geral devem ser restritos, como as carnes gordas, embutidos, frios, leite e iogurte integrais, chocolates, sementes oleaginosas (como amendoim), óleo de milho e azeite de oliva, salgadinhos, batata chips, entre outros.

Suplementação energética e vitamínico-mineral
Devido à restrição alimentar imposta, a dieta pode ficar deficiente em vitaminas (A, D, E, C, ácido fólico), oligoelementos e energia. Esta avaliação deve ser individualizada, assim como a prescrição dos suplementos, quando indicados.
Como suplementos energéticos podem ser usadas fontes de carboidratos isentas de gorduras, como maltodextrina e outros polímeros de glicose.

Suplementação de ácidos graxos essenciais (AGEs)
Devido à restrição de gorduras, a dieta se torna deficiente em ácidos graxos essenciais, como o linoléico e alfa-linolênico. Geralmente o consumo de AGEs através do óleo de Lorenzo e da dieta hipogordurosa fica limitado a aproximadamente 2% do
valor calórico total. Para complementar, recomenda-se suplementar 1 a 2% do valor calórico total da dieta com óleos fonte destes ácidos graxos para evitar sua deficiência.
A relação ideal ácido linoléico:ácido alfa-linolênico é de 5:1, podendo variar de 4:1 até 10:1.
Considerando-se os óleos vegetais disponíveis no Brasil, sugere-se a utilização de óleo de girassol associado a óleo de peixe. Óleo de nozes é uma excelente opção, porém disponível em poucas localidades brasileiras.


Seguimento de 89 pacientes assintomáticos com adrenoleucodistrofia tratados pelo Óleo de Lorenzo.

Arch Neurol. 2005 Jul;62(7):1073-80.


Moser HW, Raymond GV, Lu SE, Muenz LR, Moser AB, Xu J, Jones RO, Loes
DJ, Melhem ER, Dubey P, Bezman L, Brereton NH, Odone A.




OBJETIVOS
Identificar meninos assintomáticos com adrenoleucodistrofia ligada ao
X (X-ALD) com ressonância magnética cerebral normal, e avaliar o efeito do óleo de
Lorenzo (relação 4:1 de trioleato de glicerol e trierucato de glicerol) na progressão
da doença.



METODOLOGIA
89 meninos (idade de 4,7 +/- 4,1 anos, faixa 0,2 –
15 anos) foram identificados por dosagem plasmática de ácidos graxos de cadeia
muito longa utilizada na triagem de meninos de alto risco. Todos foram tratados
com o óleo de Lorenzo e restrição moderada de gorduras na dieta. O estado clínico
e os ácidos graxos plasmáticos foram acompanhados durante 6,9 +/- 2,7 anos.
Mudanças nos níveis do ácido hexacosanóico plasmático foram estimadas pela
medida da área sob a curva, e um modelo de risco proporcional foi usado para
avaliar a associação com o desenvolvimento de anormalidades neurológicas e com
o exame de ressonância magnética cerebral.



RESULTADOS
Dos 89 meninos, 24% desenvolveram anormalidades na ressonância magnética e 11% desenvolveram tanto anormalidades neurológicas quanto na ressonância magnética. Somente os 64 meninos com 7 anos ou menos por ocasião do início do tratamento desenvolveram
anormalidades. Houve associação significativa entre anormalidades na ressonância
magnética cerebral e aumento do ácido hexacosanóico no plasma. Para cada
aumento de 0,1 microg/mL na área sob a curva do ácido hexacosanóico, a relação
de risco de incidência de anormalidades na ressonância magnética no grupo total
foi de 1,36 (risco adicional de 36%); P=0,01; 95% intervalo de confiança, 1,07-
1,72. Os resultados para todos pacientes com idade de 7 anos ou menos foram
semelhantes (P=0,04).



CONCLUSÕES
A redução do ácido hexacosanóico mediante emprego do Óleo de Lorenzo associou-se com redução do risco de aparecimento de anormalidades no exame de ressonância magnética. Nós recomendamos tratamento com Óleo de Lorenzo para meninos com X-ALD assintomáticos com
exame de ressonância magnética cerebral normal.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Projeto Myelin
Esse é o link do site do projeto Myelin fundado por Augusto e Michaela Odone, os pais de Lorenzo Odone. No site você encontra informações importantes sobre o Óleo de Lorenzo. Link:
http://www.myelin.org/
Vale a pena conferir o esquema que mostra de forma simplificada o funcionamento do óleo. Link: http://www.myelin.org/attachments/contentmanagers/11/scishow.swf

Pessoal aí vai um resumo, que servirá como guia da minha apresentação.




Nos mamíferos a oxidação de ácidos graxos ocorre nas mitocondrias, peroxissomos e retículo endoplasmático. No meu estudo a oxidação dos peroxissomos é relevante pois os peroxissomos são organelas citoplasmáticas que encarregam-se de diversos processos metabólicos, que incluem invariavelmente a degradação de ácidos graxos. A B-oxidação peroxissomica promove o encurtamento de ácidos graxos de cadeia linear muito longa obtidos pela dieta e principalmente por produção endógena. Os AGCML são transportados pela permease acil-CoA gordurosa , sem o auxilio de carnitina para o interior dos peroxissomos , onde são convertidos nas respectivas acil-CoA e em seguida transportados para as mitocôndrias onde a degradação será completada.


Adrenoleucodistrofia
A ADL (adrenoleucodistrofia) resulta da deficiência da proteína permease acil-CoA gordurosa que transfere os ácidos graxos de cadeia muito longa através da membrana dos peroxissomos. Essa atividade anormal leva a um acúmulo excessivo de
ácidos graxos de cadeia muito longa em tecidos corporais, sobretudo no cérebro e nas glândulas adrenais. A conseqüência desse acúmulo é a destruição da bainha de mielina, afetando, assim, a transmissão de impulsos nervosos. Os mecanismos precisos através dos quais os AGCML ocasionam a destruição da bainha de mielina ainda são desconhecidos, o que já se cogita é que ocorra uma inflamação da bainha.

Influência Genética
É uma doença recessiva ligada ao cromossomo X, o que significa que afeta predominantemente os homens e é transmitida por mulheres portadoras que podem manifestar um grau leve da doença. O gene defeituoso que ocasiona a doença está localizado no
lócus Xq-28 do cromossomo X. Esse gene é responsável pela codificação da enzima ligase acil CoA gordurosa. Como o gene defeituoso ocasiona uma mutação nessa enzima, os AGCML ficam impedidos de penetrar nos peroxissomos e se acumulam no interior celular. A ALD pode apresentar diferentes variantes fenotípicas, isso ocorre de acordo com a expressão do gene mutado. Existem diferentes tipos de adrenoleucodistrofia, em função da idade do início dessa enfermidade


Tratamento
O tratamento da insuficiência das glândulas adrenais é bastante eficaz se for tratada com administração de mineralocorticóides e de glicocorticóides para compensar a ausência destas substâncias. Os espasmos musculares são tratados com medicamentos anticonvulsivantes. No entanto, o comprometimento do sistema nervoso central, a principal causa de deterioração física e mental, é o principal desafio para os pesquisadores, por ser irreversível. Alguns estudos experimentais estão sendo realizados obtendo algum êxito com o transplante de medula óssea e dietoterapia com " óleo de Lorenzo".


O Óleo
O óleo de Lorenzo é uma combinação de ácido oléico e de ácido erúcico.Uma mistura de 4 partes de trioleato de glicerol (fonte de ácido oléico) e 1 parte de trierucato de glicerol (fonte de ácido erúcico). Este azeite parece atuar reduzindo a velocidade da síntese endógena dos ácidos graxos , normalizando os índices no plasma e lentificando a deterioração neurológica. O consumo do óleo de Lorenzo, que inibe a síntese endógena dos AGCML, associado a uma dieta hipogordurosa e restrita nestas gorduras, contribui para a normalização dos níveis plasmáticos de AGCML e prevenção da evolução do quadro clínico nestes pacientes.


Características físicas:
O trierucato de glicerol é uma gordura sólida à temperatura ambiente, portanto o óleo de Lorenzo, mesmo à temperatura ambiente, tem aspecto viscoso, com “pontos” brancos, semelhantes a “cristais”. Quando o óleo é refrigerado, ocorre solidificação desta fração, formando um sedimento branco. Este aspecto é normal.


Apresentação:
Frascos de vidro de 500ml.


Dietoterapia com o Óleo de Lorenzo
O objetivo da dietoterapia é normalizar os níveis plasmáticos dos VLCFAs, através da restrição da ingestão de ácido hexacosanóico (dieta hipogordurosa) associada à ingestão de óleo de Lorenzo, o qual inibe a biossíntese dos VLCFAs.
Em resumo, a dieta consiste em:
1) Óleo de Lorenzo
2) Restrição de ácido hexacosanóico e gorduras
3) Suplementação energética e vitamínico-mineral, quando necessário
Suplementação de ácidos graxos essenciais (AGEs)

Dose:
A dose diária recomendada é de 20% do valor calórico total da dieta, o que equivale a aproximadamente 2 a 3ml/kg de peso/dia. Geralmente os níveis plasmáticos de VLCFAs normalizam após 4 semanas de uso do óleo.
Alguns pacientes podem requerer dose diária inferior a esta para normalizar os níveis de VLCFAs. Exemplos da estimativa de consumo diário são apresentados abaixo.


Efeitos Adversos
Indivíduos em uso da terapia com Óleo de Lorenzo podem apresentar discreta elevação das enzimas hepáticas, trombocitopenia, queixas gastrintestinais, gengivite e redução dos ácidos graxos essenciais no plasma. Redução nas plaquetas, que geralmente não é grave o suficiente para determinar a suspensão da terapia. Monitoramento cuidadoso é recomendado. Sugere-se a realização de controle mensal das plaquetas em plasma nos primeiros seis meses de tratamento e a cada três meses posteriormente. Para prevenção da deficiência de ácidos graxos essenciais, é recomendada sua suplementação rotineira.

Histórico
O óleo de Lorenzo foi idealizado nos anos 80 por Augusto e Michaela Odone, pais de um menino portador de adrenoleucodistrofia ligada ao X, uma doença até à época sem opção de tratamento, de curso irreversível e que levava ao óbito, aproximadamente três anos após o diagnóstico. Inconformados com este prognóstico, Augusto e Michaela estudaram em profundidade e chegaram à hipótese de que o uso de um óleo à base de ácido graxo erúcico e oléico poderia estabilizar o curso da doença. Augusto e Michaela estavam corretos, e deram a esta mistura o nome de óleo de Lorenzo, em homenagem ao seu filho.



Alessandra Barreto

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

A Adrenoleucodistrofia é uma doença genética que devido ao acúmulo de ácidos graxos (principalmente nas células do cérebro) causa destruição da bainha de mielina. Sem a mielina, os neurônios perdem a capacidade de transmitir corretamente os estímulos nervosos que fazem o cérebro funcionar normalmente. Apesar de não ter cura, o tratamento é feito com uma dieta especial de baixo teor de gordura e suplementação com Óleo de Lorenzo que é o foco do nosso estudo. O presente blog, tem como objetivo ajuda-lo a entender melhor a doença e suas generalidades e principalmente o óleo que é parte do seu tratamento. É importante que os nossos ledores tenham olhar crítico diante das informações aqui postadas, visto que elas fazem parte de uma pesquisa bibliográfica pequena. O espaço está aberto para suas dúvidas, sugestões e críticas.